Como o cérebro funciona no isolamento?

“A lei máxima da neurociência é um dos mais belos exemplos da importância de se estabelecerem conexões: neurônio que não se comunica, se estrumbica” (Donald O. Hebb).

Claro que Donald O. Hebb não falou nessas palavras, mas, em 1949, o psicólogo canadense desvendou as bases da plasticidade neuronal, mecanismos pelos quais somos capazes de aprender”, Hebb revelou que redes neurais ficam fortalecidas quando neurônios se conectam e disparam juntos. Estabelecer conexões nos torna mais fortes.

Quando somos obrigados a nos isolar – como neste momento de pandemia – ou quando o isolamento é secundário a uma patologia (depressão, pânico), alterações neuroquímicas, hormonais e de expressão gênica atuam sobre o cérebro: “Os níveis de dopamina e serotonina se alteram, nos tornamos irritadiços, intolerantes. Nosso indexador temporal e registrador de memórias, o hipocampo, uma estrutura do lobo temporal, sofre estresse oxidativo e fenômenos inflamatórios. Mergulhamos na atemporalidade, não sabemos a hora do dia, esquecemos nossos compromissos”.
Portanto, para proteger a sua sanidade e manter o cérebro trabalhando sem sobrecarregá-lo com mais mudanças do que as já impostas e incontroláveis di- ante das circunstâncias, procure cuidar da alimentação, não negligencie o sono,  mexa-se (é possível, sim, mesmo dentro de casa) e encontre uma maneira de se conectar com as pessoas (WhatsApp, crie grupos, Facebook, e-mail, telefone, skype, da janela, chamada de vídeo), sempre respeitando as regras de segurança para evitar a contaminação pela COVID-19.
Hormônios, os mensageiros químicos
Hormônios e neurotransmissores são substâncias produzidas pelo organismo, responsáveis pela manutenção de diversas funções vitais. Destacamos alguns deles:
Ocitocina: é um neuropeptídeo sintetizado no hipotálamo e lançado na circulação por meio da neurohipófise. A secreção da ocitocina pode ser mediada por inúmeros estímulos sensoriais, incluindo o contato físico e o olfato. Interações sociais positivas, empatia e suporte psicológico dependem também da ocitocina
Cortisol: produzido no córtex das glândulas suprarrenais, pertence à classe dos glicocorticoides, que são uma classe principal de hormônios do estresse liberados pela ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. Quando o organismo é exposto a uma situação estressante, esse eixo é ativado. A secreção basal de cortisol segue um ritmo circadiano (ciclo noite-dia) e é caracterizada por um pico que ocorre aproximadamente 30 a 60 minutos após o despertar, seguido de um declínio progressivo ao longo do dia. Altos níveis de cortisol aumentam a consolidação da memória. Porém, em altos níveis, cronicamente afeta a recuperação dessa informação.
Adrenalina e noradrenalina: A noradrenalina, o principal neurotransmissor do sistema nervoso simpático, é responsável por alterações tônicas e reflexas no sistema cardiovascular. A adrenalina é determinante nas respostas aos desafios metabólicos, como a privação alimentar e o estresse emocional, bem como para o preparo do organismo para a luta ou fuga.
Endorfinas: agem no cérebro para reduzir nossa percepção da dor, e dessa forma têm efeito semelhante a drogas como morfina e codeína. Além da diminuição da sensação de dor, a secreção de endorfinas leva a sentimentos de euforia, modulação do apetite, liberação de hormônios sexuais e melhora da resposta imune. Com altos níveis de endorfina, sentimos menos dor e menos efeitos negativos do estresse. Embora o papel das endorfinas seja amplamente debatido por médicos e cientistas, é sabido que o corpo produz endorfinas em resposta a exercícios prolongados e contínuos.
Serotonina: a serotonina é associada a aspectos emocionais e motivacionais do comportamento humano, incluindo ansiedade, depressão, impulsividade, psicose e drogadição. A serotonina regula ainda funções como o comportamento sexual e alimentar, sensibilidade à dor, ritmo circadiano entre outras.
Dopamina: o sistema dopaminérgico desempenha papel importante na neuromodulação, associada ao controle motor, motivação, recompensa, função cognitiva, cuidados com a prole, entre outros. A dopamina é um neurotransmissor, sintetizado primordialmente no sistema nervoso central. Os receptores de dopamina são amplamente distribuídos no corpo e funcionam tanto no sistema nervoso periférico quanto no central. Agentes farmacológicos direcionados à neurotransmissão dopaminérgica têm sido utilizados clinicamente no tratamento de vários distúrbios neurológicos e psiquiátricos, incluindo doença de Parkinson, esquizofrenia, transtorno bipolar, doença de Huntington, transtorno do déficit de atenção e hiperatividade e síndrome de Tourette.
Fonte: Jornal  Estado de Minas